Cantares Nocturnos

segunda-feira

Subtilmente, passas, segurando o passo enquanto olhas para mim, para que eu tenha a certeza que tenho os teus olhos a beijarem-me a alma. No arrepio do instante, no instante em que me arrepio, passam vidas e existências entre o nosso olhar, sem tu saberes porquê, sem eu perceber porquê. Não sei o que os meus olhos te dizem, as histórias que contam, não sei se te mostram o desejo mal escondido e desprevenido.

São instantes, somente, e vejo que viajas para algum lado, onde talvez eu esteja à tua espera, numa viagem incógnita, onde apenas os nossos olhares saibam o caminho...

E ansiosamente tranquilo, espero que passes, espero que me olhes e que me leves, nem que seja, apenas, por um instante.
posted by Grey Moon Wolf at 04:09 7 comments

Deixar que o quente das lágrimas corte o frio da madrugada que me acorda. Dispo a pele do lobo, que traz o sangue nocturno da cidade preso ao pelo. Na dualidade extrema, encontro-me, sou o que sou, sem respostas ou perguntas. Apenas fúria, apenas tristeza, se busco sem descanso a morte da tua alma, é apenas porque roubaste a minha.

Espero, espero... com a vaga esperança que desesperes.
posted by Grey Moon Wolf at 07:03 7 comments

sexta-feira

Será que já deixaste de sentir-me? será que não te lembras? Serei eu, apenas uma sombra, entre tantas na tua vida? Tanta palavra, tanta paixão, tanto amor? E agora? Vou para onde? Diz-me! Tu que quiseste fazer parte da minha vida, tu que quiseste ser o meu destino?
Partes. Nada dizes. Nada fazes. Deixas-me nu, sentado numa cama de falsos afectos, desejos súbitos... Que caminho tomo? Choro a tua ausência até a dor me vencer pelo cansaço da angústia? Afogo-me nos beijos de outra boca, apenas para lhe tomar o gosto, sem lhe saber o nome, marco-lhe a carne com as caricias que te dei?

És cobarde, eu também sou, mas recuso a ser mais do que aquilo que me fizeste ser. Tu, pelo contrário, és a coragem com pés de barro, escondeste-te atrás da fúria, tal como eu, atrás da raiva. Quando a madrugada chega, e aclara as sombras da noite, vejo-te ao longe, vestida de farrapos de rainha, com a presunção de quem tem sempre razão. Já alguém te disse que és miserável? Que eu sou aquilo que tu tanto te esforças, sem sucesso, para ser? Partes, e deixas-me partido, em noite de agonia, até a manhã chegar e com ela, a redenção.
posted by Grey Moon Wolf at 06:47 8 comments

segunda-feira

posted by Grey Moon Wolf at 03:24

A dor explode, em fagulhas de lucidez, que queimam a certeza, deixando a marca, a marca da minha incapacidade de lutar. Amar-te incondicionalmente tem um preço, o martirio canonizado da minha alma, que dia após dia, se encolhe, para que não dês por ela, para que assim, apagada, não a vejas. Talvez assim, ela sobreviva, tal como eu. Quando a noite me abraça, saio para caçar, solto, livre, cavalgando pensamentos e ideias, uivando a céus de mil luas, a geada fina cobre-me, arrepiando-me, fazendo-me acreditar que estou vivo, e em breves instantes, sou aquilo que sou, sem ser mais ou ser menos, sem ser aquilo que queres que eu seja, sem ser o pote de barro que tanto aprecias.

Acordo, enroscado no teu corpo quente que me afaga, sem saber porquê. O amor que te tenho afoga-me em beijos, que não os sinto, em ternuras, vagabundas perdidas no meu corpo, e em cada manhã, morro, para que te possa amar.
posted by Grey Moon Wolf at 02:46 8 comments

quinta-feira

Durmo só, à distância de um toque teu, fechado, manietado, sentindo o teu sono, os teus sonhos, o teu cheiro... Engulo o que tenho para chorar, e fecho-me mais ainda.

Estou cansado, cansado de tentar, de tentar fazer-te saber que te amo, que te desejo. Só me beijas quando estás em cio, e em fúria apressada me consomes, devoras o amor que tenho para dar, deixando-me quieto, sem nada, nu perante a noite que fazes descer sobre os meus olhos, que não sabem como te podem olhar, e nessa escuridão que deixas deitada a meu lado, escondo-me, acossado como um lobo, pela matilha de palavras duras que ficam por dizer, flutuando como nuvens de tempestade, sobre as planicies queimadas do meu coração.
posted by Grey Moon Wolf at 02:49 19 comments

segunda-feira

Procurei o calor do fogo para apaziguar o frio do corpo, gelado pelo luar, brilhante, cortante, que deixaste derreter no meu peito. Fugi, vestindo a pele do lobo, para que os teus olhos jamais me encontrassem e despissem, sem pudores ou cuidados, e longe de ti, posso permanecer a teu lado, sem que saibas, sem que sintas, o que sou verdadeiramente. Cobarde assumido, sobrevivente na floresta negra que se estende aos teus pés.
posted by Grey Moon Wolf at 05:18 8 comments