Cantares Nocturnos

segunda-feira

posted by Grey Moon Wolf at 03:24

A dor explode, em fagulhas de lucidez, que queimam a certeza, deixando a marca, a marca da minha incapacidade de lutar. Amar-te incondicionalmente tem um preço, o martirio canonizado da minha alma, que dia após dia, se encolhe, para que não dês por ela, para que assim, apagada, não a vejas. Talvez assim, ela sobreviva, tal como eu. Quando a noite me abraça, saio para caçar, solto, livre, cavalgando pensamentos e ideias, uivando a céus de mil luas, a geada fina cobre-me, arrepiando-me, fazendo-me acreditar que estou vivo, e em breves instantes, sou aquilo que sou, sem ser mais ou ser menos, sem ser aquilo que queres que eu seja, sem ser o pote de barro que tanto aprecias.

Acordo, enroscado no teu corpo quente que me afaga, sem saber porquê. O amor que te tenho afoga-me em beijos, que não os sinto, em ternuras, vagabundas perdidas no meu corpo, e em cada manhã, morro, para que te possa amar.
posted by Grey Moon Wolf at 02:46 8 comments

quinta-feira

Durmo só, à distância de um toque teu, fechado, manietado, sentindo o teu sono, os teus sonhos, o teu cheiro... Engulo o que tenho para chorar, e fecho-me mais ainda.

Estou cansado, cansado de tentar, de tentar fazer-te saber que te amo, que te desejo. Só me beijas quando estás em cio, e em fúria apressada me consomes, devoras o amor que tenho para dar, deixando-me quieto, sem nada, nu perante a noite que fazes descer sobre os meus olhos, que não sabem como te podem olhar, e nessa escuridão que deixas deitada a meu lado, escondo-me, acossado como um lobo, pela matilha de palavras duras que ficam por dizer, flutuando como nuvens de tempestade, sobre as planicies queimadas do meu coração.
posted by Grey Moon Wolf at 02:49 19 comments

segunda-feira

Procurei o calor do fogo para apaziguar o frio do corpo, gelado pelo luar, brilhante, cortante, que deixaste derreter no meu peito. Fugi, vestindo a pele do lobo, para que os teus olhos jamais me encontrassem e despissem, sem pudores ou cuidados, e longe de ti, posso permanecer a teu lado, sem que saibas, sem que sintas, o que sou verdadeiramente. Cobarde assumido, sobrevivente na floresta negra que se estende aos teus pés.
posted by Grey Moon Wolf at 05:18 8 comments

domingo

Cantar à lua, navegar na noite, fugir à luz do dia, para que ela não revele a verdadeira natureza do meu ser. Sou secreto, sou escondido, sou o que sou, insano na raiva com qual me flagelo, para simplesmente sentir-me vivo. Há muito que desisti da complexidade humana na qual todos se querem enquadrar, sou simples, básico, instintivo, carnivoro, sexual, predador e nos braços de quem amo, presa indefesa, até querer, até permitir, até deixar que acreditem na minha inocência indefesa, máscara da sobrevivência, sou quem sou, apenas nada, somente um fragmento de luar, flutuando na noite escura, cantando baixinho, à espera que alguém oiça.
posted by Grey Moon Wolf at 13:36 9 comments